sábado, 24 de abril de 2010

Sozinho..


Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Caetano Veloso

É mais que só amor


É mais que amor, é querer, é necessidade, é mais do que só amor, amor é muito pouco, amor é só amor. Isso aqui é muito mais, é algo que consome, algo de proporções colossais, inexplicável. Amor é pequeno, amor é amorzinho, amor é cor de rosa, isso aqui é muito mais, é vermelho, marrom, azul, roxo, verde, cor de rosa, preto. Não é ver o mundo colorido, não é cantar Beatles no meio da rua. Isso aqui é muito mais, isso é ser os Beatles, é pintar o colorido do mundo, é mergulhar a mão na tinta e jogar por aí, é fazer das cores uma dança. Amor é coisa de livro, coisa de garotinha. Isso aqui é muito mais, isso aqui é um dicionário, uma bíblia, em 30 partes, milhões de capítulos e entrelinhas, coisa que garotinha não consegue ler. Isso aqui é muito mais

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Porque?


Eu quero ser amada, mas eu não quero mudar pra isso. Isso é muito errado?
Por que eu tenho de usar salto? Eu fico sexy? Porque eu me sinto um travecão.
Por que eu não posso ser desbocada? Por que eu não posso falar palavrão? Nem sempre é de um jeito ruim! Como quando você diz:
- Porra, você é muito foda!

Não é bem uma ofensa. Eu estou dizendo que a pessoa tipo, arrasa.
Por que meu cabelo tem que estar sempre perfeito? E meu suor tem que ser cheiroso?
Por que eu não posso sair por aí descabelada e fedendo?
Tudo bem, isso eu até entendo, a parte de sair fedendo seria meio... Nojento.
Mas quanto ao resto... Eu ainda me pergunto "por quê?".
Por que eu tenho que usar maquiagem pra esconder minhas olheiras? Por que não mostrar ao mundo o quanto estou cansada?
Eu quero mais é que se foda se eu pareço à noiva cadáver quando fico umas horas a menos sem dormir.
Por que eu não posso roer minhas unhas? Tudo bem, talvez faça mesmo um mal danado a sua saúde. E na unha tem mesmo milhões de bactérias.
Mas nas bocas de muitos meninos que muitas meninas beijam sem mal saber o nome também tem muitas bactérias.
E ninguém deixa de beijar por isso.
Por que eu não posso passar a noite lendo ao invés de sair para a balada com as amigas e continuar sendo considerada "normal" por elas?
E dai que se divertir é considerado saudável para seu corpo?
Eu prefiro exercitar meu cérebro. É mais duradouro que minha juventude e beleza.
Por que eu tenho de ser bonita, aliás? Por que eu não posso ser uma barangona e ainda assim ter um namorado super fofo e atencioso?
Ele também não precisa ser bonito, aliás! Se as piriguetes já caem matando em cima dos feios, imagina só dos bonitos!
Um namorado bonito me daria muito trabalho.
E além do mais... Eu sou uma garota preguiçosa.
Continuando com os "por quês"...
Por que eu tenho que saber cozinhar? Miojo cru existe pra isso.
E não há nada de errado em comer o miojo cru. Só por que ele é cru?
Não dou à mínima se o tempero vai pro lixo.
Eu só queria saber.
Por quê?

Você tem um cigarro?


- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu.


Quando Saturno encontrou Júpiter - Caio F

Ele disse que queria ser uma nuvem deitado na grama olhando o céu em uma tarde ensolarada.
Ele disse, vendo a mais bela nuvem que já viu, que queria ser uma nuvem para viver no céu, naquela imensidão azul...
Ele queria liberdade, por isso queria ser uma nuvem.
Ele queria viver o mais bonito amor. Queria ser visto, ouvido, lido.
Ele gostava de se expressar por palavras escritas – e se expressava muito bem através delas -, era culto, educado, inteligente, sincero. Era um rapaz lindo e charmoso... Mas era tímido, tão tímido que em uma tarde ensolarada declarou que queria ser uma nuvem, viver no céu, ser abrigo de anjos, ser livre, leve e branquinho... E poder chorar – de alegria ou de tristeza; de amor ou de raiva; de saudade; de medo; de qualquer porquê ou sem nenhum porquê -, assim, para todos verem, todos sentirem, e alguns – poucos ou muitos; jovens ou não; mulheres ou homens; garotos apaixonados ou meninas rebeldes; não importa – entenderem o seu pranto e o fariam companhia dançando, cantando, sorrindo, brincando, amando, chorando, correndo ou apenas ouvindo o barulho das lágrimas sob elas, até a última lágrima cair.
Ele queria ser livre, queria ser sentido e de alguma forma – comum ou não – ser compreendido.


Ele só queria ser uma nuvem... e se fosse, seria a mais fascinante.

domingo, 18 de abril de 2010

Em tudo, há algo.


No passinho
calmo e lento
da criança assustada
há também o olhar infindo
da mãe tão preocupada.

Na voz
intensa e misteriosa
do amante encafifado
há também o medo
de perder um lugar honrado.

Na estante
cheia e empoeirada
do escritor concentrado
há também a frase que muda
o viver tão extraviado.

No pensamento
forte e peremptório
da menina em formação
há também algo que diz:
não ignores teu coração.

Imensurável nós.


Eu tento fugir e já não posso. Paras em minha frente, e peremptório, repetes incansavelmente que me amas. Que amor é esse, que só aparece quando me ponho a partir? Somos tão fracos, querido. Isolamo-nos do mundo, com o pensamento de que os problemas iriam embora. Fomos tão ingênuos ao pensar que apenas nossos sentimentos importavam! Eu queria sentir tua voz aveludada, falando-me que não acabou. Pois teu coração, ainda que imensamente machucado, bate na esperança e na vontade de um novo amanhecer. Sei que sentimentos não bastam e vidas foram postas em risco... As nossas vidas. Quando tomei tal liberdade de tocar-te, não pensei que tal sentimento tomaria conta de mim. Mas o amor é algo imensurável, querido. E terrivelmente louco. Não controlamos, não decidimos quando, nem onde, muito menos o motivo. Amei em ti os defeitos e estranhezas, fiz um ninho em meu peito para que pudesses aconchegar-se e, descuidada, acabei pondo-nos em risco. Um grande risco de cair no alheio, de provar novos corpos, de beber de palavras desconhecidas. Perdoa-me por erros assim. És tão puro e doce, que não tens coragem de deixar-me ir. Meus dedos em teu rosto. Teus olhos imaculados, olhando-me fixamente. E a lembrança de que, por todas as catástrofes acontecidas e palavras não ditas, continuaremos tentando recuperar nossa paz. Beijo-te o rosto e volto para nós. Não machuco-te mais, cuida de mim.